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domingo, 1 de março de 2020

Tese e Desafios

Eu acho que me tinha esquecido como é começar algo. 

Tive o mesmo trabalho por 10 anos, aprendi imensas coisas lá, mas com o tempo habituei-me às minhas tarefas e tinham-se tornado coisas que eu sabia fazer e se não soubesse fazer pelo menos sabia como aprender a...

Lembro-me duma amiga minha dizer dizer muita vez que a vida é como um jogo de vídeo, que temos patamares e que o que nos diferencia é a capacidade de passar ao seguinte.

Eu estou nessa fase. Neste momento dei um salto e em vez de passar ao patamar seguinte sinto-me agarrada à beira do precipício a tentar subir.

Desde que vim para Hull tive problemas e situações sobre as quais não tenho qualquer controlo, neste momento um mês depois de finalmente ter autorização para aceder aos dados e começar a minha tese estou na fase em que as coisas começam a depender de mim. Se por um lado isso é bom porque quer dizer que finalmente iniciei a minha jornada por outro lado faz-me sentir pequenina. 

Desde que comecei a trabalhar no meu projecto aprendi imensas coisas, mas aprendi sobretudo a grande extensão da minha ignorância no campo que escolhi. Eu sou uma optimista e isso às vezes põem-me em situações difíceis, situações das quais não sei como vou sair, esta é uma delas. 

A minha tese tem o objectivo de classificação de imagem com uso de técnicas de Deep Learning. Trocado por miúdos e por termos que talvez sejam mais correntes, estou a aplicar inteligência artificial para que um programa classifique "Diagnostique" imagens como doentes ou saudáveis. 
Na teoria parece simples.
comecei por fazer cursos online,  fiz uma disciplina de programação (afinal passei! :D),  criei e organizei as bases de dados, li sobre estes conceitos e técnicas. E senti-me super preparada para avançar confiantemente, só que não! 

Na realidade assim que comecei a tentar aplicar tudo o que já sabia, começou tudo a correr mal. Na realidade ade é um pesadelo! Eu não percebo nada de programação, as imagens que uso são em formatos diferentes das geralmente usadas, a linguagem de programação diferente da mais commumente usada, por usar dados muito sensíveis não é possível ter ligação à internet no meu computador e não tenho algumas das toolbox que deveria instaladas de modo que tenho de adaptar o que os exemplos sugerem, o meu orientador mudou de universidade... Sinto-me no meio das areias movediças da investigação

Já não me lembrava do que era sentir-me assim. Vi muitos dos meus estudantes passarem por isso, achei que conseguia perceber o que sentiam mas não! Esquecemo-nos o que é estar do outro lado e começar algo mesmo difícil. Ser um novato.


Neste momento sinto-me uma criança a aprender a ler.


Como tentei sempre  sempre participar em coisas diferentes,tinha chegado  a um ponto em que sabia mais ou menos com o que contar, resolver os problemas que apareciam não era um desafio tão grande, mas aqui voltou a ser.

Já há algum tempo que não tinha dúvidas sobre ser capaz de concluir aquilo a que me propus quando as coisas estão nas minhas mãos e esta semana tive este sentimento. Estou neste momento a tentar lembrar-me das vezes em que tive esta dúvida e espero ir encontrando o meu caminho brevemente, ir ganhando forças para passar ao patamar seguinte, as probabilidades não parecem famosas. Vamos ver...




quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Mudanças...

Esta semana tive a minha última consulta com o psicólogo.

 Segundo parece depois daquela fase mesmo negra que passei desde o verão até Outubro mais ou menos estou a conseguir reequilibrar-me.

Digo a conseguir pois embora o psicólogo me tenha dito que estou bem, e que ache que o meu mau estar tenha sido uma resposta natural às mudanças, e problemas com que tive de lidar no ano passado, há dias em que ainda não me sinto eu.

Falar, escrever, ir ao psicólogo, encerrar o capítulo do casamento, mudar de casa e finalmente começar a tese... tudo isto ajudou a que a pouco e pouco eu me sinta de novo mais forte, durma melhor, esteja mais capaz de ultrapassar as dificuldades que aparecem num doutoramento.

Disto tudo trago comigo algumas coisas que me mudaram para a vida, uma é que tenho de ser mais assertiva, dizer o que me magoa quando me magoa, pois ainda que não vejamos as coisas acumulam-se e no longo prazo afectam-nos de uma maneira que não antecipamos. Outra das coisas que é essencial ser disciplinado, sobretudo com o sono, eu sempre tive dificuldade em ter horários de dormir muito regulados e sofro de insónia desde criança, mas alguns dos meus comportamentos também influenciam este padrão de sono. A outra é que tenho de ser menos independente, contar com as pessoas que gostam de mim, porque não estou sozinha no mundo, de modo que não devo agir como se estivesse.

Ainda assim estou grata por me sentir já um pouco mais capaz de ter uma vida normal, de voltar a ter força para estabelecer objectivos outros que apenas sobreviver, e de voltar a ter gosto pela vida, de voltar a ter um pouco mais de bom humor, de deixar um pouco de amargura que se tinha colado a mim para voltar a ser a pessoa mais empática e optimista que sempre fui.

Agora é agarrar-me ao trabalho de doutoramento com unhas e dentes... Até porque não percebo nada do que estou a fazer.. Mas isso é assunto para outro post.




domingo, 3 de novembro de 2019

Conversas com o loiro: "Cold feet"

Um dos preconceitos que geralmente se tem em relação aos alemães é que eles são frios, sérios e não têm sentido de humor. Eu devo dizer que é verdade do que tenho conhecido são super sérios em assuntos sérios e odeia risos e brincadeira neste contexto, mas fora disso são divertidos. O loiro é uma das pessoas mais engraçadas que conheço, e mesmo quando estamos como agora cheios de problemas e a afogar-nos em burocracia acaba por encontrar coisas para gozar com tudo e me fazer rir.

Eu o Loiro  temos circunstâncias um pouco diferentes do normal na preparação do nosso casamento e por isso tem sido feito tudo mais em conjunto do que é habitual em Portugal. Uma das coisas que escolhemos em conjunto e que tradicionalmente não costuma acontecer foi o fato do noivo.

Já há algum tempo fomos os dois comprar o fato de noivo dele, mas, não comprámos os sapatos.
Nos últimos meses sempre que falamos do que falta preparar eu pergunto-lhe se já comprou os sapatos, e ele por brincadeira para eu não ser tão chata começou a responder-me que decidiu ir antes de sandálias.

Um destes dias fartei-me de rir com esta conversa, vou colocar aqui o diálogo para que vejam:
 (está em português mas na realidade foi falado em inglês e é em inglês que os trocadilhos fazem sentido):

Eu: Então, e já compraste os sapatos?
Loiro: Já te disse, vou de sandálias.
Eu: Mas assim vais ter os pés frios!
Loiro: Não, vou usar as sandálias com meias...

Do original pés frios ="cold feet"  é uma expressão que em inglês é usada para quem tem medo de se casar e pensa em fugir antes disso...
E as meias com sandálias é uma piada, porque os alemães em geral usam meias com sandálias e é uma coisa que nós portugueses achamos super estranho.

Nunca vi o loiro de sandálias com meias, vamos ver como ele aparece no dia. :D





sábado, 2 de novembro de 2019

Amor é: na saúde e na doença...

Nas últimas semanas tenho andado adoentada. Uma das minhas mamas começou a ficar dolorosa, com pequenos derrames, quente, um pouco aumentada, com alteração de cor numa das regiões do mamilo.. A um mês do casamento, em Inglaterra sozinha, e sendo uma mulher em geral fiquei em pânico!

Eu tenho muito medo de vir a sofrer cancro e mais especificamente cancro da mama, não é de agora, mas de quando estagiei no IPO.  Desta vez não foi um medo totalmente infundado pelos sintomas que tenho tido. Entretanto fui ao médico, ainda sem certeza de nada mas  ontem deram-me antibiótico e em princípio é uma mastite (infecção da mama) tenho de fazer mais alguns exames só para ter a certeza, mas fiquei um pouco mais relaxada.

No meio disto tudo na quinta-feira a conversar com o loiro perguntei-lhe:

Eu- E se eu tiver cancro, tu queres manter o casamento?

 (70% das mulheres com cancro da mama deixam de ter vida sexual por rejeição dos parceiros após, muitas divorciam-se nestas circunstâncias)

Loiro- Não quero fazer discurso nenhum de casamento, não quero nada complicado, quero quanto mais simples melhor.

Eu- Mas não me respondeste!!

Loiro - Porque não são coisas relacionadas. Se tiveres cancro não tem nada a ver com o nosso casamento. Se estiveres doente não é culpa tua nunca te deixaria por isso. Agora nada de pânico, vais à consulta e depois sabemos.

Ontem depois da consulta tinha aqui um jantar com amigas preparado por mim, cheguei a casa e comecei a organizar as coisas, como tínhamos combinado no skype às 20 e já tinha algumas mensagens da manhã no whatsapp que ele não tinha respondido doutras coisas não enviei mensagem a dizer nada...

Quando me dei conta tinha imensas chamadas não atendidas e estava a tentar ligar me de novo...

Eu- Aconteceu alguma coisa?

Loiro- Aconteceu a tua consulta, não enviaste mais nada eu já estava super preocupado a pensar que tinhas de ficar no hospital, our que te estavam a operar e ninguém me dizia nada,ou assim...

Derreteu-me o coração...

Ainda sem sintomas mas há alguns anos tinha feito a mesma pergunta: - Se eu tiver cancro ficas comigo? E a resposta tinha sido - Não sei!.

Agora com sintomas que podiam ser foi o oporto. Foi uma resposta de constância, de aceitação em circunstâncias menos boas, de amor incondicional.

É assim que vemos se somos amados,, quando não depende da nossa beleza, da nossa idade, do sermos saudáveis ou não. É claro que à primeira vista tudo isto interessa, somos biologicamente condicionados para ver beleza em seres saudáveis. Mas a convivência e o elo que formamos deve sobrepor-se a isto. 

O Loiro não fala muito, mas quando fala tem o poder de me deixar a mim- falabarato- ficar muda!





segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Odiozinhos de estimação: grupos de noivas

Eu não sou uma pessoa de odiar a sério.
Se pensar bem não guardo rancores, acabo por esquecer e com o tempo até querer bem a pessoas que de algum forma me prejudicaram.

Ainda assim tenho uma tendência para odiozinhos de estimação. O meu último odiozinho de estimação são as publicações dos grupos de noivas do facebook e esta febre dos casamentos.

Eu sempre tive intenção de me casar,  sou totalmente pró-casamento, respeito os casais que não o fazem mas para mim é algo que sempre fez sentido. Adoro casamentos, o ambiente de felicidade, de esperança, de Bem querer, é algo que me derrete.

Ainda assim, e mesmo com este grande amor por casamentos, detesto esta febre de que as noivas parecem agora tomadas. É exagero! É exagero que tudo tenha de combinar com tudo! É exagero que se peçam opiniões no grupo da vida privada do casal! É exagero que se queixe da sogra publicamente! É exagero as encenações de pedidos só para show off! É exagero obrigar o noivo a vestir com as exactas cores do casamento e decidir tudo sem ele! E tantas outras coisas que acabam por ser muito de casamento mas muito pouco de casal.

Eu vejo estas coisas e dou comigo a achar que pelo caminho de nos preocuparmos com o exterior perdemo-nos a nós como indivíduos e como casais.

No lado oposto conto-vos a experiência do meu casamento preferido dos últimos tempos foi o casamento de uma amiga minha cá em Hull. Depois da missa foi feito um barbecue, no quintal deles. Estava tudo enfeitado e lindo, a família ajudou a preparar coisas e havia um ambiente de descontração e felicidade total que adorei.

O meu casamento vai ser um dia particularmente infeliz, fazem lá falta pessoas que apesar de já não estarem entre nós amo muito e que sei que queriam viver este momento. Mas ainda assim se puder ter um desejo é o de que se aproxime deste de que vos falei. Que o sentimento de amor, família e amizade seja muito superior ao sentimento de perfeição que abomino cada vez mais.

Termino isto a aconselhar-vos a juntarem-se aos grupos das noivas do facebook. Se já se tiverem casado ou não pretenderem fazê-lo podem na mesma, têm sido uma das razões de riso dos últimos tempos. Acabo a divertir-me com aquelas coisas. Até ter entrado nunca me tinha dado conta que ainda vivemos numa qualquer realidade alternativa dos anos 50, em que as mulheres se querem sem maior ambição que casar e ter uma festa bonita para fazer inveja às "amigas".








segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Ensinamentos

Há dias na vida de adulto em que nos sentimos como crianças abandonadas. É como se nos tivéssemos perdido da mão da mãe ou do pai num mar de gente e não soubéssemos bem o que fazer para os encontrar. 

Hoje sinto-me assim, com falta de uma direcção, de um guia que me ajude a tomar as decisões certas.

Há mais ou menos 12 anos tive uma altura semelhante na vida, estava  a meio do segundo ano de mestrado e por atrasos diversos da universidade só a começar a  tese de mestrado, habituada a ter sucesso, sentia-me a falhar na vida e que todas as minhas escolhas até aí tinham sido erradas. Estava presa no mestrado errado, na relação errada, no amor errado, presa numa vida em que sentia não ser a que queria viver. 
Comecei a ter algumas fobias, passava os dias a comer, chorar, dormitar durante o dia, acordada à noite. Vestia-me para sair de casa e chegada à rua não conseguia sair da porta do prédio. Completamente bem vestida e maquilhada voltava para cima retirava tudo e continuava fechada. Isto durou mais ou menos dois meses. 

Um dia, no final destes dois meses, o meu pai foi-me buscar e levar-me de Lisboa para a terra para eu recuperar. Eu e o meu pai não éramos pessoas de conversas muito profundas. Tínhamos uma relação mais de cão gato, e em geral ele em casa era mais o género de pessoa de  ouvir as conversas entre nós as mulheres sorrindo sem participar muito. Ainda assim nesse dia, só nós a caminho da terra, eu a sentir-me na vida como se me afundasse em areias movediças, ele disse-me:

Pai- Sabes não há mal nenhum em desistir, em falhar, em mudar de direcção. Eu tinha tudo planeado, ir estudar desporto depois tive o acidente e acabei por ir estudar outra coisa e sou feliz. Gosto mesmo muito Se não te sentes bem onde estás muda. Começa outra coisa.

Não me lembro do que respondi, mas este saber que podia falhar foi a coisa mais libertadora da minha vida. Na altura decidi desistir do mestrado e ir começar a licenciatura de Engenharia física em Coimbra. Continuei a tese mais por hobbie, mas a achar que quando começasse o ano a ia abandonar. A minha Mãe levou-me ao médico de família, ele receitou-me medicação para dormir, que nunca cheguei a tomar. Comecei a dizer às pessoas que ia abandonar o mestrado, porque assim pensava. Fui aceite em Engenharia física, onde por equivalências tinha um ano feito e passados uns meses fui chamada para a escola e acabei por me voltar a focar no mestrado e a acabá-lo já a trabalhar.  

Mas acho que tudo se curou em mim com esta conversa, com o tempo que tive a seguir em família com os novos planos que fiz na minha cabeça e nunca cheguei mesmo a viver. Acho que foi a segunda vez que o meu Pai me salvou a vida.

Neste momento não o tenho para me vir buscar e resolver tudo.  Acho que é isto que perdemos com a perda dos Pais, uma parte do nosso mundo morre com eles a parte que nos suporta. É este sentimento de desamparo que estou a ter muita dificuldade em superar.

Sinto que outra pessoa raivosa ocupou o meu corpo, sinto-me profundamente irritada com os mais próximos sem razão, grito com a minha mãe sem querer. Algo muito negro está a ocupar a pessoa relaxada, feliz e amorosa que costumo ser.

Não esperava que tanta pessoa lê-se e comentasse o meu post anterior, nem procuro piedade. Escrevo porque escrever me ajuda. Para mim é natural. É como se tivesse conversas comigo e com os ensinamentos das pessoas que fazem e fizeram parte da minha vida e ficaram. Escrevo um diário mais privado, mas escrever de forma pública ajuda-me a esforçar-me mais por ser consistente, é mais fácil mantermo-nos no trilho quando dizemos a toda a gente do que quando só nos prometemos a nós. Por isso escrevo para o público.

Eu não quero desistir do que estou a fazer, mas preciso duma mudança. De subir do fundo do poço a pouco e pouco. E talvez chorar ajude de facto, como se com o caudal das lágrimas o poço fosse enchendo e nos ajudasse a subir. Há sofrimentos que temos de viver bem vividos para ultrapassar. Estou nessa fase, mas ainda acredito num amanhã melhor..



P.s. A foto é do primeiro dia em que conduzi a autocaravana, o meu Pai ensinou-me. Foi nas férias de verão de 2017, conduzi um pouco por toda a Europa. Este ano fui eu que a levei quando fui uns dias de férias com a minha Mãe. Talvez como no resto na vida, seja aplicar as ferramentas que me deixou.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Como a dor nos muda

Há a ideia geral de que as pessoas não mudam.

 Eu discordo inteiramente, acho é que há dois tipos de mudança que se operam em nós. 

O primeiro tipo é aquele em que cabem as mudanças pequeninas que se operam cada dia e que ao fim de algum tempo acabam por se tornar numa mudança maior, são as mudanças que quase não vemos. Daí a 10 ou 20 anos percebemos que tudo aquilo que eram verdades absolutas já o não são, que as coisas que eram o centro da nossa vida mudaram e que a pouco e pouco outras que não tinham essa importância, agora têm.

O segundo tipo de mudança que se opera em nós é o das grandes mudanças, e estas por norma ocorrem com um acontecimento importante. Acontecem em consequência de grandes eventos, grandes mudanças, rupturas, perdas, ganhos importantes. Acontecem quando nos apaixonamos, quando mudamos de cidade, quando fazemos um curso, quando mudamos de grupo, quando terminamos com alguém, quando alguém querido nos morre...

Nos últimos tempos devido à morte tão inesperada do meu Pai, tenho pensado muito nisto, tenho visto as mudanças nas pessoas que me rodeiam e são mais queridas. Tenho visto as lutas que temos para nos reajustarmos a esta transformação e a forma como nos mudou como pessoas.

Eu sempre fui muito religiosa mas isto afastou-me um pouco de Deus, se por um lado ainda acredito por outro sinto-me frustrada. Tornei-me mais medrosa e ansiosa. Acho sempre que algum momento pode ser o último, mas ao contrário do conhecido Carpe Diem e o #YOLO, é um fardo não uma sorte ver o mundo assim.
 Culpo-me ainda pelo facto de o meu Pai ter morrido na vinda de me ter ajudado. Eu não podia adivinhar e embora saiba isto racionalmente emocionalmente é algo que tem sido muito difícil de gerir. 

Tudo isto me mudou, transformou-me em alguém mais pessimista, mais triste, mais revoltada. Transformou-me também em alguém mais forte e resiliente. Só através do sofrimento mais profundo encontramos a nossa verdadeira força e sabemos os nossos limites.

Isto é muito verdade para mim particularmente este  último ano, em que além desta grande perda sofri  outras mudanças e perdas... 
Saí do sitio onde trabalhei por 10 anos (e adorava apesar das queixas continuas de excesso de trabalho), mudei de país, afastei-me da família, do loiro, da minha casa, tenho enfrentado dificuldades com a tese em processos de autorizações, burocracias, mudanças de orientadores, a orientação dum casamento à distância com toneladas de documentos, lutas de família neste processo de reajuste, problemas com o loiro por estarmos nós os dois desequilibrados internamente... porcarias atrás de porcarias.

No meio disto tudo o facto de saber que o meu Pai queria que eu prosseguisse com os meus objectivos é o que me tem dado força de prosseguir sem ter ainda desistido de nada. Acho que ele sempre acreditou em mim mais do que eu mesma. Eu sempre me senti fraca, frágil. E só agora com estas perdas todas me dei conta que o não sou.

O Loiro tinha me dito que depois de perder o Pai se sentia mais desamparado no mundo. Eu não o entendi, achei que tinha entendido mas na realidade não!
 Mas agora sinto-o também. A tragédia traz-nos esta força que nos ensina capazes de ultrapassar grandes dificuldades, mas a tragédia da perda de alguém tão crucial na nossa estrutura traz-nos a certeza de que nada é eterno, de que nada é certo e uma insegurança no mundo e no futuro que nos acompanha para sempre. Um sentimento de desamparo que se entranha em nós, nos ocupa e se faz eu.

A dor transforma-nos.




domingo, 4 de agosto de 2019

Conversas com o loiro: Surpresa

Ainda não estou de férias. E parece que quando menos falta mais o tempo custa a passar.
Ando desmotivada e com um humor de cão, especialmente nos fins de semana quando estou mais sozinha e tenho mais tempo para pensar na vida.
Mas hoje acabei por ficar feliz com uma coisa pequenina...

Eu e o loiro conversamos imenso sobre livros. Lemos muito, trocamos e partilhamos.  Isto começou porque eu sempre adorei ler. E uma das coisas que ele fez no início do namoro  que realmente me apaixonou foi ler o "Orgulho e Preconceito", é um dos meus livros preferidos. Algum tempo depois confessou que o fez mais para me impressionar que por interesse e que não gostou muito do livro, mas a verdade é que funcionou! Eu fiquei realmente impressionada e começámos a ter esta tradição literária de casal de ler em conjunto e trocar opiniões. Hoje neste contexto aconteceu uma coisa engraçada...

Loiro - Olha já acabei o livro que estava a ler.
Eu - A sério? Só eu é que este ano não leio nada, ando mesmo sem paciência.
Loiro- Vou começar outro que quero ler há algum tempo mas ainda não tinha conseguido.
Eu- Qual? 
(usualmente trocamos livros tipo romances, mas ele lê mais livros sobre desporto e eu sobre catástrofes e personalidade)
Loiro- Este! (e mostrou-me o meu livro!)

É engraçado mas nem me tinha passado pela cabeça. Como o livro é escrito em português e é poesia ele acabou por nunca o ler porque na altura do lançamento não sabia o suficiente  para o entender. E agora que sabe decidiu começar. <3

Como ele é um crítico honesto e exigente (Quem é que encontra algo contra a Jane Austen? Quem??!!!), sou capaz de ter um problema (ou talvez não, escrevo muito pior que ela!)!!! :D lolol
Em todo o caso é algo que me faz muito feliz partilhar com ele. Acredito que na poesia e no sofrimento despimos verdadeiramente a alma e nada me agrada mais que o facto de ele me querer ver assim.






sexta-feira, 2 de agosto de 2019

"Tiny Houses" e vida frugal

Qualquer pessoa que me conheça mais ou menos sabe que eu tenho uma tendência grande para acumular coisas. Tenho roupas que practicamente não uso, livros que provavelmente nunca lerei e apesar de no último ano ter feito um grande esforço para reduzir as minhas coisas não sinto que tenha ainda chegado lá.
Não me considero materialista no sentido de valorizar muito o que cada coisa custa, mas sou materialista no sentido de sentir conforto nas coisas que tenho. Sou muito ligada emocionalmente a todos os objectos, lembro-me quando comprei, porquê e tenho uma grande dificuldade de me ver livre de coisas.

O Loiro é o oposto total, todos os objectos que possui cabem em duas malas de viagem. É um adepto do minimalismo, chega mesmo a ter vários polos todos da mesma cor para não ter de escolher e andar sempre igual. A jornada da vida dele é de simplificação. Uma das coisas que ele adora em Portugal é o clima porque lhe permite ter uma vida quase inteiramente ao ar livre. Pratica imenso desporto, lê ao ar livre, dá caminhadas diárias, acampa imensas vezes durante o ano, no tempo livro apanha lixo de parques por razões ambientais. E tudo isto são coisas que eu admiro nele, apesar de ser diferente.

Por isto e pelas minhas experiências passadas de férias de autocaravana com os meus pais a viajar ganhei um gosto por casas mini. As chamadas Tiny Houses. 

Quando pensámos em comprar casa andámos a ver mas percebemos claramente que as casas mini ainda disponíveis no nosso país e com o facto de termos de comprar o terreno e de querermos ficar em Lisboa ou muito perto não era uma opção. Ainda assim e apesar de termos optado por outra solução fiquei com este "bichinho" e estas casas fascinam-me.

Não está nos meus planos mas era algo que certamente gostaria que estivesse.

Fui educada a aprender que maior é melhor, até me aperceber que não. 

E hoje no youtube encontrei uma família inteira a viver este estilo de vida mais simples, menos complicado numa destas casas e devo dizer que me parece um sonho. Nada é tão importante como proximidade e foco nos que amamos e a maioria das vezes as coisas servem apenas para nos distrair do que realmente importa. 

Deixo aqui o link tiny house


E uma foto duma destas casas. Só para verem como são giras. :D


quarta-feira, 31 de julho de 2019

Conversas com o loiro

Eu sou firmemente decidida quanto às grandes coisas que quero na vida e completamente indecisa em relação às pequenas.

Na preparação do meu  casamento com o loiro descobri muito rápido o que para mim era necessário e o que era acessório. 
Claro que sofri um grande golpe com a perda do meu Pai e só consigo pensar no dia como uma ocasião agridoce em que ele não estará. Logo ele que andava tão entusiasmado com os planos! Ainda assim, viver este tipo de ligação com o loiro e com Deus é algo que quero muito.

Uma das coisas em relação à qual eu não estou ainda decidida é a questão de ter despedida de solteira, se uma em Portugal e outra cá, se só uma lá, se nenhuma. 
Há coisas que sei que não gosto. Para ser honesta acho as despedidas de solteira uma foleirice. Mas a ideia de ir sair com os meus amigos é sempre agradável e uma coisa mais simples não está totalmente fora do plano.
Já o Loiro decidiu que não quer festa de despedida de solteiro. Eu tentei convencê-lo a ter pelo menos uma mini despedida de solteiro com os irmãos ou assim:

...
Eu- Mas tens a certeza que não queres mesmo?
Loiro- Tenho!
Eu- Mas porquê?!! Tens a certeza que não te vais arrepender?
Loiro- Tenho. Casar não é uma coisa má, por isso não faz sentido que a pessoa se tenha de despedir de ser solteiro.

Nesta última frase ele relembrou-me duas das coisas que realmente me apaixonam nele. O facto de ele pensar sempre pela cabeça dele até ao mais ínfimo detalhe e a segurança com que abarca cada uma das suas decisões depois de tomada. 

Não acredito que só o amor seja suficiente para manter uma relação, tem de haver mais. Tem de haver comprometimento, compatibilidade, tolerância, admiração, atracção, objectivos partilhados, responsabilidade...

Mas no amor tudo deve ser mais fácil, se exige muito esforço para resultar não é a sério.
 E sinto isso em relação ao loiro. Sinto que torna a vida fácil.
 Ao lado dele mesmo os momentos mais amargos perdem um bocadinho da amargura porque me sinto entendida e acompanhada. 

Amor é isto! 
É sentir mais saudade dos momentos rotineiros que dos fantásticos. 
É saber que no fundo mais importante do que a viagem ou o que se faz é a pessoa que nos acompanha. 

O loiro ensina-me todos os dias que os amores espectaculares não pertencem só nas páginas dum livro, mas podem ser criados por pessoas de carne e osso, com falhas e qualidades, por pessoas reais como eu e Ele.




sábado, 13 de julho de 2019

Dizem que o amor nos muda

Dizem que o amor nos muda, que é inevitável que em qualquer relação de amor nos comecemos a parecer mais e de certa forma nos aproximemos através da transformação. Eu acredito nisto e tem sido engraçado ver a transformação que a relação com o loiro tem operado em mim.

Apesar de tentar ser consciente em relação ambiente e pessoas, sempre o fui de forma muito incompleta.

Levo os meus sacos para o supermercado desde antes de ser moda, tento comprar em lojas locais de frutas e legumes, sou paranóica com  reciclagem, opto sempre por transportes públicos... e tudo isto são hábitos que considero bons!
 Por outro lado sou um bocado viciada em compras (a segunda indústria mais poluente), uso imenso plástico e sou um pouco uma acumuladora.

O loiro é minimalista já há muito tempo, vive aquele tipo de vida simples, desapegado de objectos, pouquíssimas roupas compradas em sítios com produção europeia....Eu o total oposto!

Desde que vim para Hull, trouxe apenas o essencial e deixei o Blondy viver no nosso apartamento com as minhas roupas.  Com esta mudança dei comigo a pensar seriamente se faz sentido ter tanta coisa.
Mudei muito neste último ano. Aprendi a ver o essencial e a cortar o supérfluo para que não me distraia do que realmente interessa. As pessoas que amo, os meus objectivos, o meu papel no mundo...

O exemplo é sempre mais educativo que a pressão e realmente nisto o loiro tem razão. Simplificar a vida e viver em harmonia com o ambiente e o mundo faz-nos mais felizes. 

Por isso, decidi finalmente adaptar-me a este estilo de vida mais simples, comprar apenas o necessário, evitar o desperdício, desapegar-me um pouco mais do material e tentar evitar tudo o que pertence a lojas de fast fashion. Vamos lá ver como me saio nisto. é uma grande mudança da pessoa que eu era há cerca de um ano, mas sinto-me finalmente pronta.


Não quero ser mais parte do problema!


P.s. Se puderem vejam o documentário da netflix true cost, choca-nos mas vale a pena ser visto.

Tese e Desafios

Eu acho que me tinha esquecido como é começar algo.  Tive o mesmo trabalho por 10 anos, aprendi imensas coisas lá, mas com o tempo habi...