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quarta-feira, 10 de julho de 2019

Como um estrangeiro entende português...


Hoje tive uma conversa engraçada com o loiro que vos deixo aqui.

Para contextualizar, tenho de explicar que há três semanas o meu loiro foi operado a um pé e desde aí tem estado a recuperar. Esta semana começou a fisioterapia. Vindo da fisioterapia tivemos esta  conversa. Nós  comunicamo-nos sempre em inglês, e ainda que na vida normal com outras pessoas em Portugal ele já fale português às vezes acontecem situações cómicas. Para que entendam todas as palavras que no original nós dissemos em português vou colocar entre aspas, tudo o que estiver fora de aspas foi dito em inglês.
Escuso dizer que apesar de a linguagem ser um bocadinho ofensiva não é minha intenção ofender ninguém, estou a reproduzir a forma como o trataram na consulta...

Eu- Então como correu a fisioterapia?
Loiro- Correu bem mas o fisioterapeuta chamou-me "marisco".
Eu- "Marisco"? Porquê?
Loiro- Estava a fazer-me doer e eu estava preocupado que a dor não fosse normal e queixei-me e perguntei se era suposto doer, então ele chamou-me "marisco". Disse:"Estes homens hoje são uns mariscos!".
Eu- Não terá sido "maricas"?
Loiro- Ah, pois foi isso!


Eu lá lhe expliquei o insulto, ele ficou mais sossegado por ter sido uma piada, mas queixou-se de que a pessoa tem de saber se estas coisas são normais ou não.

 E eu fiquei a pensar que todo este processo da cirurgia me tem ensinado como a abordagem à saúde é diferente nos dois países:

-Quando o médico diz que lhe responde e demora dois dias a responder, eu acho normal, ele acha que ele não é confiável. 
-Quando as consultas estão atrasadas, eu acho que é normal, ele acha que o médico não é confiável. 
-Quando gozam com ele numa consulta, eu acho normal que é para relaxar, ele acha uma falta de respeito. 

Eu não sei bem o que está mesmo certo, sei que os nossos profissionais fazem o melhor possível com os meios à disposição. Mas talvez exista mesmo uma necessidade de reorganização dos serviços, em que as pessoas tenham um sistema mais previsível, mais respeitoso, em que os pacientes sintam que se podem queixar e perguntar à vontade. 
A nossa saúde ainda é muito centrada no Médico e menos no doente e  há um caminho a fazer. Acho que no fundo nós portugueses normalizamos um sistema que não devia ser visto como normal.
Talvez no meio esteja mesmo a virtude e uma coisa entre os dois extremos que conhecemos entre Portugal e a Alemanha pudesse ser possível, em que se brincasse com o doente de forma não ofensiva... uma realidade em que as pessoas se sentissem ouvidas e atendidas de forma competente.

Deixo uma foto do loiro quando acordou da cirurgia: 



P.s. Ele não vai gostar, mas a verdade é que mesmo pouco depois de acordar da anestesia  o acho super giro. 😻

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