Hoje encontrei esta notícia
É sobre um Hotel em Hull, que tinha reservas através duma instituição de caridade, para sem abrigo lá ficarem duas noites durante o Natal e que cancelou a reserva... Tendo eu própria uma história sobre este Hotel e um sem abrigo numa situação aflitiva que vivi, decidi contá-la a seguir:
Na passada quarta-feira 12 de Dezembro por volta das 23 h soube que o meu Pai tinha sofrido um acidente horrível de viação e perdido a vida.
Fiquei completamente desorientada! E naquelas terríveis horas, de quarta para quinta-feira, ainda tinha muita coisa para preparar... reservei a viagem de comboio de Hull para Manchester, comprei uma nova viagem de avião, fiz a mala, tomei banho e chegada por volta das 2 da manhã estava pronta para sair de casa.
O meu comboio era por volta das 5 e meia da manhã mas eu estava num tal estado de desespero e ansiedade que não conseguia estar naquele quarto onde vivo. Uma vez que já tinha passado parte duma noite na estação em Manchester achei que talvez ir para a estação de comboios em Hull me fizesse sentir menos em crise... pelo menos via pessoas. Foram momentos de desespero.
Chegada à estação dei-me conta de que em Hull ao contrário de em Manchester a estação estava fechada. Fiquei na rua, estava um frio gélido, sem vontade de voltar para o quarto e à beira do colapso.
Tive a ideia de ir para o café deste hotel da notícia, de tomar qualquer coisa enquanto aguardava pela abertura da estação às 5h, o café/ bar do Hotel estava cheio de gente a beber relaxadamente... Um senhor do Hotel após eu chamar, chegou à entrada, olhou para mim, e recusou-me a entrada. Eu expliquei a minha situação e ele disse que não podia fazer nada, mas que devia ir ao centro comercial ali perto que tinha um supermercado aberto 24 horas.
Chegada ao centro comercial, estava tão desorientada que fui para a Porta errada e não conseguia entrar. Veio um sem abrigo que me mostrou como entrar, me perguntou como eu estava e por me ver tão mal me conduziu até uns bancos no meio do centro comercial (debaixo das câmaras de vigilância) e me disse que ia ficar por perto só para eu não estar sozinha naquele estado.
Tem 35 anos, chama-se Adam, é polaco, tinha estudado astrofísica na Universidade de Hull, mas não acabou o curso. Tinha qualquer problema de saúde mental pelo que me apercebi, trazia um livro dos evangelhos e para me acalmar começou a ler-me partes a dizer que Deus consola e que é o Nosso grande Pai.
Quando chegou a hora da estação abrir disse-me que ia à vida dele, procurar cigarros, e desejou-me boa sorte para a longa viagem que ainda me esperava...
Isto parece uma história de livro... foi real, ponto por ponto e ensinou-me algumas coisas.
Aprendi que nos piores momentos de desespero, quando pensamos que Deus nos abandonou ele se mostra de alguma forma, tal como no texto das pegadas na areia.
Ensinou-me que a educação, não define o rumo.
Ensinou-me que os mais desesperados podem ser os primeiros que nos acodem, quando em desespero.
Mostrou-me que talvez eu deva fazer mais por estas pessoas, tão iguais a mim, que provavelmente por difíceis circunstâncias tenham tido uma vida tão horrível. Eu sempre fui uma pessoa empática e dou praticamente sempre dinheiro às pessoas que vejo na rua, o meu namorado até brinca comigo a dizer que assim nunca mais chegamos a ricos. Mas realmente o que faço não é suficiente para o que me foi feito. Não sei bem como nem o quê, mas cresceu em mim a firme intenção de ajudar duma forma mais concretas os sem abrigo, depois disto tudo.
Por agora começo a contar esta história, talvez melhore a atitude de algumas pessoas face a estes homens e mulheres.
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