O que faria uma pessoa aparentemente sã da cabeça, deixar Portugal, a família, o noivo, o cão, os amigos e as suas três casas para vir para Hull, sozinha, viver numa casa de estudantes recomeçar um doutoramento do zero?
No meu caso fui trazida. Dito assim parece que não foi uma escolha consciente e no fundo não foi. Mas talvez seja melhor começar a história desde início.
Eu quero já há muito tempo concluir o Doutoramento, andei na Universidade de Coimbra, mas depois de concluir o ano curricular e ter o Projecto de tese aprovado tive o equipamento base do que seria a minha tese avariado, as pessoas ligadas ao projecto daquele equipamento afastaram-se e eu andei desde Outubro de 2014 a Outubro de 2016 com a perspectiva de uma tese que não era possível, pois apesar de ter um projecto aprovado não tinha o equipamento no qual este pudesse ser realizado. Depois de em Setembro de 2016 saber que o meu contrato de trabalho não seria mais renovado se não obtivesse o Doutoramento até 2017 pressionei o meu orientador e lá me encontraram outro tema de tese, mas o medo foi mais forte e fiquei preocupada que semelhante situação se repetisse.
Devo realçar que apesar disto o meu Orientador foi incansável na tentativa de arranjar soluções, mas encontrava-se ele próprio limitado nos projectos em que me podia inserir devido ao meu tempo limitado e ao ambiente, tenho dele a melhor impressão possível.
Ponderei aceitar o novo tema, mas acabei por julgar ser preferível recomeçar do zero noutro sítio, desta vez com um foco total nos estudos e com um doutoramento financiado.
Entretanto tivemos na Escola a possibilidade de prorrogar o contrato por mais um ano que eu aceitei, e que aproveitei para finalizar os projectos em que estava envolvida lá e para organizar este meu recomeço.
Comecei por fazer o IELTS, e tive de repeti-lo para ter um mínimo de 7 (fluência). Eu só estudei inglês do 7º ao 9º ano.
Foi talvez o maior obstáculo para mim.
Para conseguir passar comecei a ser voluntária no ensino do inglês na Universidade Sénior de Moscavide e no SPEAK. Ajudou-me grandemente a aprendizagem informal que tenho tido ao longo da vida e o contacto com o loiro com quem comunico quase sempre nesta língua.
Depois disto fiz listas das universidades e doutoramentos com bolsas que me poderiam interessar, todos nas áreas afins ao que estudei ou investiguei um pouco pela Europa toda. A minha preferência ia para a Alemanha, seguida da Suécia... Mas as primeiras entrevistas foram aqui e quando fui aceite acabei por não ter coragem de rejeitar a oferta e continuar à procura.
Tenho perfeita noção que na maioria dos países alguém decidir fazer o Doutoramento com bolsa aos 33 é loucura e que os estudantes juniores são altamente preferidos. Que ter conseguido foi uma sorte e se deve a todas as coisas profissionalmente interessantes que os 10 anos de ensino na ESTeSL me proporcionaram.
Assim, armada com optimismo, perseverança, sentido de sacrifício e incentivos dos que me amam acabei por fazer esta grande mudança.
A minha primeira impressão da Universidade é boa, ainda que os meus supostos orientadores tenham saído e me estejam a empurrar para outros (começo a achar que estou embruxada nestes percalços de doutoramento). A cidade não é fantástica mas tem sítios bonitos.
E o título?
O título vem duma piada que o loiro criou quando eu lhe disse que vinha para Hull só por 4 anos.
Ele respondeu-me: - 400 years in Hell? Just 400 Years?
É agora a nossa piada, porque de facto estes 4 vão saber a 400 longe dele e ainda que possa haver uma certa beleza na aventura, todas as escolhas trazem coisas boas e más e a minha afasta-me das pessoas de quem gosto e que são o meu Porto seguro.
Não há vidas fáceis... mas pelo menos enquanto infeliz dá-me para escrever, é só chato, não muito nocivo. :D
p.s.- A outra hipótese é eu não ser aparentemente sã da cabeça...
p.s.- A outra hipótese é eu não ser aparentemente sã da cabeça...
Vista de um parque que descobri hoje na minha caminhada habitual.
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