Quando chegamos à década dos 30 como mulheres somos algo pressionadas a tomar uma posição em relação à questão de querer ou não crianças. A maioria de nós começa a pensar mais a sério neste assunto e planeia a sua vida em função disso.
Pessoalmente eu sempre achei que quereria ser mãe um dia, a questão é que os 30 chegaram e eu não sinto essa vontade mais próxima do " um dia será algo que realizarei", ou seja "um dia", não agora!
Tenho também noção que a fertilidade feminina decresce de forma acentuada após os 35 e não quero sentir-me pressionada a ser mãe antes de o desejar mesmo.
Em relação a este tema, noto muitas opiniões extremas e sempre me senti um pouco no meio, é uma questão que me preocupa mas no longínquo. A ideia de ser mãe no imediato ainda me assusta.
Assim, optei pela criopreservação dos ovócitos, ou trocado por miúdos, congelei os meus óvulos. Decidi escrever sobre o tema para que pessoas que se sintam como eu quanto a este tema se possam informar e saibam que há alternativas.
Porque é que quero vir a ser mãe um dia?
- Porque acredito que as pessoas se realizam através do ter filhos, acredito que é uma oportunidade de nos "imortalizar", não só geneticamente mas através da educação e valores que são passados, através da marca que o ser família imprime.
Ainda assim, há muitas coisas que quero fazer ainda antes de ser mãe...
A razão pela qual falo sobre isto quando seria algo que o bom senso me aconselha a não divulgar?
Porque apesar de ainda não ser uma prática corrente, é uma técnica muito acessível e um tema sobre o qual não se fala muito. Na realidade desde que manifestei esta vontade tenho ouvido os dois coros: críticas por pessoas que acreditam que se deve ser mãe cedo e questões um pouco surdas de pessoas interessadas no processo, que se querem informar.
Como pouco me importa o que os primeiros pensem, decidi responder a algumas das questões das segundas.
As minhas crenças em relação ao assunto:
Pessoalmente eu acredito na ciência, acredito em Deus e na minha cabeça estes temas não são contraditórios. A ciência descobre a grandeza Divina.. Não vejo estes procedimentos como contranatura, na realidade acho que o mundo mudou, a medicina prolonga a vida e permite-nos viver com saúde até mais tarde então o estender da fertilidade é apenas uma vertente que considero dentro dos meios disponíveis por vivermos no tempo em que vivemos. Encaixo isto na minha cabeça mais ou menos na mesma caixa em que encaixo o uso de antibióticos para não se morrer de infeção, para mim não é uma questão ética mas antes uma questão tecnológica.
Sinto-me bem com a minha escolha?
Sinto-me como acho que os homens se sentem: aliviada em relação ao assunto, sem pressa.
Primeiro porque não preciso de pensar em ser mãe quando ainda não sinto vontade de o ser e segundo porque ao preservar os meus óvulos ainda não muito velha o material genético lá presente tem mais probabilidade de não estar corrompido, ou seja os meus óvulos mesmo que utilizados mais tarde mantêm as propriedades da minha idade agora.
É um procedimento difícil?
O procedimento em si não, é feito por punção ovárica com sedação, ou seja só me senti um pouco dorida nos dias a seguir mas algo perfeitamente suportável. Nos dias anteriores tive de seguir um processo de estimulação hormonal com muitos exames e injecções e isso sim foi para mim o mais negativo do processo. Este procedimento está disponível também para mulheres totalmente saudáveis.
Quanto custa?
O procedimento no local onde fiz (Cemeare) custa 1000 €, a criopreservação por 5 anos 500€, a medicação e exames ficaram um pouco caros, sendo que todo o procedimento ficou entre 2000 e 2500€.
Até que idade os óvulos podem ser usados?
No nosso país a legislação actual contempla os 49 anos, na clínica onde fiz a implantação pode ser até aos 47 anos, mas estes podem ser deslocados para outras clínicas ou países. Os óvulos mantêm as características com o tempo e em outros países estes procedimentos são feitos em idades mais avançadas, os casos mais mediáticos foram um na Índia aos 73 anos e outro na Espanha aos 65.
No meu caso ainda não pensei bem, mas não conto usá-los antes dos 40 anos, nem depois dessa década.
Isto invalida o processo de reprodução normal?
Não. Na realidade os óvulos que são retirados são os que seriam perdidos numa ovulação normal, um por ser libertado os outros por atrofiarem. A minha fertilidade não é afectada com isto, no meu caso eu vejo isto como um backup, como quando se gravam as fotografias em dois sítios para não se perderem. Eu mantenho a possibilidade de reprodução normal enquanto a tiver, mas se depois quando desejasse fosse difícil tenho esta alternativa com óvulos meus, em vez de recorrer a óvulos de dadora.
Espero que tenha ajudado alguém, se por ventura quiserem contactar-me pessoalmente em relação ao tema, de forma menos exposta não vejo qualquer inconveniente.
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