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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Como a dor nos muda

Há a ideia geral de que as pessoas não mudam.

 Eu discordo inteiramente, acho é que há dois tipos de mudança que se operam em nós. 

O primeiro tipo é aquele em que cabem as mudanças pequeninas que se operam cada dia e que ao fim de algum tempo acabam por se tornar numa mudança maior, são as mudanças que quase não vemos. Daí a 10 ou 20 anos percebemos que tudo aquilo que eram verdades absolutas já o não são, que as coisas que eram o centro da nossa vida mudaram e que a pouco e pouco outras que não tinham essa importância, agora têm.

O segundo tipo de mudança que se opera em nós é o das grandes mudanças, e estas por norma ocorrem com um acontecimento importante. Acontecem em consequência de grandes eventos, grandes mudanças, rupturas, perdas, ganhos importantes. Acontecem quando nos apaixonamos, quando mudamos de cidade, quando fazemos um curso, quando mudamos de grupo, quando terminamos com alguém, quando alguém querido nos morre...

Nos últimos tempos devido à morte tão inesperada do meu Pai, tenho pensado muito nisto, tenho visto as mudanças nas pessoas que me rodeiam e são mais queridas. Tenho visto as lutas que temos para nos reajustarmos a esta transformação e a forma como nos mudou como pessoas.

Eu sempre fui muito religiosa mas isto afastou-me um pouco de Deus, se por um lado ainda acredito por outro sinto-me frustrada. Tornei-me mais medrosa e ansiosa. Acho sempre que algum momento pode ser o último, mas ao contrário do conhecido Carpe Diem e o #YOLO, é um fardo não uma sorte ver o mundo assim.
 Culpo-me ainda pelo facto de o meu Pai ter morrido na vinda de me ter ajudado. Eu não podia adivinhar e embora saiba isto racionalmente emocionalmente é algo que tem sido muito difícil de gerir. 

Tudo isto me mudou, transformou-me em alguém mais pessimista, mais triste, mais revoltada. Transformou-me também em alguém mais forte e resiliente. Só através do sofrimento mais profundo encontramos a nossa verdadeira força e sabemos os nossos limites.

Isto é muito verdade para mim particularmente este  último ano, em que além desta grande perda sofri  outras mudanças e perdas... 
Saí do sitio onde trabalhei por 10 anos (e adorava apesar das queixas continuas de excesso de trabalho), mudei de país, afastei-me da família, do loiro, da minha casa, tenho enfrentado dificuldades com a tese em processos de autorizações, burocracias, mudanças de orientadores, a orientação dum casamento à distância com toneladas de documentos, lutas de família neste processo de reajuste, problemas com o loiro por estarmos nós os dois desequilibrados internamente... porcarias atrás de porcarias.

No meio disto tudo o facto de saber que o meu Pai queria que eu prosseguisse com os meus objectivos é o que me tem dado força de prosseguir sem ter ainda desistido de nada. Acho que ele sempre acreditou em mim mais do que eu mesma. Eu sempre me senti fraca, frágil. E só agora com estas perdas todas me dei conta que o não sou.

O Loiro tinha me dito que depois de perder o Pai se sentia mais desamparado no mundo. Eu não o entendi, achei que tinha entendido mas na realidade não!
 Mas agora sinto-o também. A tragédia traz-nos esta força que nos ensina capazes de ultrapassar grandes dificuldades, mas a tragédia da perda de alguém tão crucial na nossa estrutura traz-nos a certeza de que nada é eterno, de que nada é certo e uma insegurança no mundo e no futuro que nos acompanha para sempre. Um sentimento de desamparo que se entranha em nós, nos ocupa e se faz eu.

A dor transforma-nos.




domingo, 4 de agosto de 2019

Conversas com o loiro: Surpresa

Ainda não estou de férias. E parece que quando menos falta mais o tempo custa a passar.
Ando desmotivada e com um humor de cão, especialmente nos fins de semana quando estou mais sozinha e tenho mais tempo para pensar na vida.
Mas hoje acabei por ficar feliz com uma coisa pequenina...

Eu e o loiro conversamos imenso sobre livros. Lemos muito, trocamos e partilhamos.  Isto começou porque eu sempre adorei ler. E uma das coisas que ele fez no início do namoro  que realmente me apaixonou foi ler o "Orgulho e Preconceito", é um dos meus livros preferidos. Algum tempo depois confessou que o fez mais para me impressionar que por interesse e que não gostou muito do livro, mas a verdade é que funcionou! Eu fiquei realmente impressionada e começámos a ter esta tradição literária de casal de ler em conjunto e trocar opiniões. Hoje neste contexto aconteceu uma coisa engraçada...

Loiro - Olha já acabei o livro que estava a ler.
Eu - A sério? Só eu é que este ano não leio nada, ando mesmo sem paciência.
Loiro- Vou começar outro que quero ler há algum tempo mas ainda não tinha conseguido.
Eu- Qual? 
(usualmente trocamos livros tipo romances, mas ele lê mais livros sobre desporto e eu sobre catástrofes e personalidade)
Loiro- Este! (e mostrou-me o meu livro!)

É engraçado mas nem me tinha passado pela cabeça. Como o livro é escrito em português e é poesia ele acabou por nunca o ler porque na altura do lançamento não sabia o suficiente  para o entender. E agora que sabe decidiu começar. <3

Como ele é um crítico honesto e exigente (Quem é que encontra algo contra a Jane Austen? Quem??!!!), sou capaz de ter um problema (ou talvez não, escrevo muito pior que ela!)!!! :D lolol
Em todo o caso é algo que me faz muito feliz partilhar com ele. Acredito que na poesia e no sofrimento despimos verdadeiramente a alma e nada me agrada mais que o facto de ele me querer ver assim.






sexta-feira, 2 de agosto de 2019

"Tiny Houses" e vida frugal

Qualquer pessoa que me conheça mais ou menos sabe que eu tenho uma tendência grande para acumular coisas. Tenho roupas que practicamente não uso, livros que provavelmente nunca lerei e apesar de no último ano ter feito um grande esforço para reduzir as minhas coisas não sinto que tenha ainda chegado lá.
Não me considero materialista no sentido de valorizar muito o que cada coisa custa, mas sou materialista no sentido de sentir conforto nas coisas que tenho. Sou muito ligada emocionalmente a todos os objectos, lembro-me quando comprei, porquê e tenho uma grande dificuldade de me ver livre de coisas.

O Loiro é o oposto total, todos os objectos que possui cabem em duas malas de viagem. É um adepto do minimalismo, chega mesmo a ter vários polos todos da mesma cor para não ter de escolher e andar sempre igual. A jornada da vida dele é de simplificação. Uma das coisas que ele adora em Portugal é o clima porque lhe permite ter uma vida quase inteiramente ao ar livre. Pratica imenso desporto, lê ao ar livre, dá caminhadas diárias, acampa imensas vezes durante o ano, no tempo livro apanha lixo de parques por razões ambientais. E tudo isto são coisas que eu admiro nele, apesar de ser diferente.

Por isto e pelas minhas experiências passadas de férias de autocaravana com os meus pais a viajar ganhei um gosto por casas mini. As chamadas Tiny Houses. 

Quando pensámos em comprar casa andámos a ver mas percebemos claramente que as casas mini ainda disponíveis no nosso país e com o facto de termos de comprar o terreno e de querermos ficar em Lisboa ou muito perto não era uma opção. Ainda assim e apesar de termos optado por outra solução fiquei com este "bichinho" e estas casas fascinam-me.

Não está nos meus planos mas era algo que certamente gostaria que estivesse.

Fui educada a aprender que maior é melhor, até me aperceber que não. 

E hoje no youtube encontrei uma família inteira a viver este estilo de vida mais simples, menos complicado numa destas casas e devo dizer que me parece um sonho. Nada é tão importante como proximidade e foco nos que amamos e a maioria das vezes as coisas servem apenas para nos distrair do que realmente importa. 

Deixo aqui o link tiny house


E uma foto duma destas casas. Só para verem como são giras. :D


Tese e Desafios

Eu acho que me tinha esquecido como é começar algo.  Tive o mesmo trabalho por 10 anos, aprendi imensas coisas lá, mas com o tempo habi...